quarta-feira, 21 de maio de 2008

Vento sem sentido...

Gosto dessas histórias de amigas, mesmo que algumas sirvam apenas pra esconder os verdadeiros personagens. Hoje me disponho a contar um desses causos, claro sob uma perspectiva totalmente romântica, diferente do simples relato da Tatinha...

Chegou à minha casa quase apavorada. Estava confusa, nervosa, seus pensamentos eram inconstantes. Quase um turbilhão arrasador. Tinha tido uma espécie de pré-encontro com um de seus melhores amigos, o Marcelão. A amizade deles era bonita de se ver, muita cumplicidade e zelo por parte dos dois, com uma certa dose de preocupação saudável. Tinham um muito de verdade sentimental, sem outros interesses.

Se conheceram num curso de inverno, numa espécie de oficina da faculdade. Desde então, a aproximação foi inevitável, ainda mais quando passaram a dividir a mesma sala do curso de Direito. Nesse princípio, além das eventuais brincadeiras que surgem da amizade entre homem e mulher, nada encaminhava outro tipo de envolvimento. Admiravam-se. E isso era bom.

Com a evolução do curso, já estavam nos preparativos para conclusão. E como seria normal, essa rotina de pesquisas, monografias e provas incluía algumas reuniões extra-classe, regada a bebida e bebida... Sim, porque os acadêmicos do Direito gostam muito de bebericar alguma coisinha. Mas o Marcelão era diferente. Ele não tinha esse hábito. Outras colegas ainda comentavam eventualmente o quanto estranho era encontrá-lo agarrando um copo de cevada.

Ele era um exemplo de homem, no auge dos seus 20 e poucos anos. Participava de congressos da academia, desenvolvia trabalhos excelentes, tinha iniciativa para as coisas da faculdade. Da faculdade. E isso não inclui diretamente as meninas. Porque para ele, elas eram caso a parte. Era o que se poderia considerar o último romântico. Daqueles que compra batata frita só pra agradar a vítima da vez.

Quando a Tatinha bateu à porta, eu já imaginava que algo estava acontecendo. Coisas sempre acontecem, mas desta vez era algo atípico. Estava enamorada, no sentido daquelas paixonites em que ficamos horas sonhando com um beijo que não aconteceu, prevendo como seria a reação do encontro daquelas salivas. Ela era só emoção. Logo pensei que claro, em questão de um dia ou dois, tudo voltaria ao normal, afinal Tatinha estava comprometida. Namorava há cerca de 4 meses, mas acima de tudo respeitava seu partner...

Mas o problema que agora surgia era outro... Precisava respeitar suas vontades, sem fugir do que era incontrolável. Estava na rota do desejo, daquilo que temos uma vontade louca incessante de fazer e tentamos arranjar ocasião que possa proporcionar. E cantarolava uns versos infantis da Marjorie Estiano que diziam:


Se o vento sopra sem sentido
As estrelas podem me guiar
Se eu não te tenho aqui comigo
Quando eu sonho eu posso encontrar

E por mais que eu não gostasse, essas palavras naquele momento tinham tanto significado pra ela. POrque só através do sonho ela podia beijar aquela boca que tanto desejava. E claro, na carona algumas cositas mais. Era como uma pulsão de Tanatos. Conversamos. Tentei explicar-lhe o que entendia dessas paixões, mas nada foi suficiente para convencê-la. Havia o tempo, que correria contra ela até o fim daquele ano. O bendito ano da formatura. Posto isso, meu conselho foi que deixasse as coisas acontecerem naturalmente.

Entre as coisas mais lindas que eu conheci
Só reconheci suas cores belas quando eu te vi
Entre as coisas bem-vindas que já recebi
Eu reconheci minhas cores nela então eu me vi

Cássia Eller

3 comentários:

Potira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Potira disse...

Ane...Ane...sabes que eu conheço alguém que está vivendo uma história muito parecida com essa? Mas deixa quieto =) ...muito bom o teu texto e a sintaxe digna de uma professora... beijo meu chaveirinho

Marcos Leivas disse...

Pobre Tatinha! Que dilema! Mas ao menos ela vai ter muitas histórias a contar para os netos. É disso que é feito a vida: de muitas histórias. Histórias que dão certo, outras que dão errado, mas que trazem muita experiência para a vida de todos nós. Se eu fosse ela, pensaria duas vezes: a razão ou a emoção? Decerto, escolheria a emoção. Antes dormir arrependido de ter feito do que acordar com a pena de não ter feito nada! Pode dizer p/ ela que fui eu quem disse! hehehe :-)

Parabéns pelo texto, muito bom! O que não me surpreende nada, nada, pois escritos por ti não poderiam ser diferentes!

Beijo queridona, te adoro!